Reflexões sobre a abordagem etnográfica e os letramentos sociais - quarta-feira, dia 20 de janeiro de 2021
O exercício da docência envolve processos complexos, que vão desde os estudos (permanentes), passando pela preparação para atuar, pelo aperfeiçoamento das experiências até os processos de formação continuada. Tudo isso envolve uma série de procedimentos, técnicas, atitudes e ações, desde a elaboração do material didático até a avaliação do processo e dos atores envolvidos.
Imaginemos um contexto com todos os atores, fatores, as demandas e os entornos relacionados a esse contexto. Imaginemos, paralelamente, as inter-relações que se estabelecem e todos os fatores subjacentes ao processo de ensino e aprendizagem.
Pensando nisso, podemos, então, problematizar a relação entre professor e aluno: o estranhamento, a aproximação, os conflitos, o diálogo, a tolerância, a credibilidade, o respeito, a pertinência das ações. Enfim, tudo isso depende de um olhar que capte o outro a fim de compreender sua realidade, suas necessidades, seus interesses, suas capacidades, suas crenças, sua cultura, seus pontos de vista, seus horizontes, seu norte.
A partir dessa problematização, podemos inferir sobre a natureza da etnografia e sua importância para a educação. Os processos de ensino e aprendizagem pressupõem um projeto delineado em torno das seguintes questões norteadoras: Ensinar o quê? Para quem? Com que finalidade? Quais problemas encontramos? Em que contexto? Qual o norte? Quais percursos? Houve transformação? Quais os avanços alcançados? O que precisa ser aprimorado?
Na área de linguagens, faz todo o sentido o contexto sócio-histórico-cultural para a perspectiva e as abordagens do ensino. Em outras palavras, vale dizer que o ensino tem de levar em conta as pluralidades de culturas, de modo de manifestação da língua e das múltiplas linguagens e modos de expressão.
Com isso, ponderamos sobre o modo elo qual a escola, o ensino de língua materna, o professor de Língua Portuguesa, todas essas instâncias podem assegurar ao aluno a valorização da sua cultura, da sua identidade, do seu contexto, da sua comunidade.
A linguagem é uma das formas que mais aproxima as pessoas. Mas, para isso, todas as variedades devem ser valorizadas. Porque a comunicação só pode fazer sentindo se todos os envolvidos puderem se expressar de forma legítima, construindo sentidos a partir de sua linguagem (e a linguagem é multifacetada), que está assujeitada à cultura de um povo, à sua realidade.
O ensino é um processo dialógico; e o diálogo é a troca de ideias, o encontro ou desencontro de ideias, e de culturas também.
A língua é um fenômeno de cunho político. Se tomada como processo de dominação, não pode traduzir os processos de ensino e aprendizagem, mas reverbera uma forma de violação e opressão. Conferir ao letramento um caráter de prática social crítica - diz Street (2014) - exige que sejam consideradas perspectivas históricas e transculturais nas práticas de sala de aula, e que possam ajudar os alunos a situarem suas práticas de letramento.
Quanto às perspectivas históricas e transculturais, Street (2014, p. 149) refere-se às convenções culturais, práticas letradas, noções de si, pessoas e identidade e luta pelo poder, ou seja, tratar de uma abordagem tanto em significados culturais quanto em argumentos ideológicos sobre o significado de letramento, bem como nas relações de poder associadas a ele, a fim de que os alunos possam participar dessas práticas conscientemente.
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