Apresentação das resenhas literárias sobre "O filho de mil homens", de Valter Hugo Mãe (Segunda parte) - Quarta-feira, 20 de janeiro de 2021
Apresentação das resenhas literárias sobre "o Filho de mil homens", de Valter Hugo Mãe
Na quinta reunião, retomamos as apresentações das resenhas literárias sobre a obra de Valter Hugo Mãe. Em suas reflexões, os pibidianos posicionaram-se sobre questões diversas, com observações variadas, mesmo quando se tratava das mesmas questões. E todos corroboraram a ideia de que, no texto de O filho de mil homens, Valter Hugo Mãe tratou de temas universais com muita perspicácia, com uma linguagem simples e, em alguns pontos, bem poética.
Na ocasião, os debates promoveram o recrudescimento da perspectiva do ensino da literatura que sobrepuje a mera transmissão de conteúdos fundamentados nos textos clássicos. Entendemos que se faz necessário superar o pressuposto de que ensinar literatura refere-se a uma proposta de apropriação dos textos canônicos.
Como professora e como leitora, entendo que reduzir o texto literário à finalidade específica de estudos da gramática e da retórica é um grande golpe contra os alunos. Isso significa privá-los de experienciar um processo dialético que envolve sensibilização, reflexão, compreensão, senso crítico e transformação.
O texto literário não pode ser apreciado a partir de um paradigma, assim como os textos canônicos não devem ocupar uma posição privilegiada diante dos demais. Não faz sentido. E a leitura literária tem de fazer sentido. E esse significado está no contato efetivo com o texto, sobre o qual o leitor estranha, questiona, refuta, revê, corrobora, julga: pensamentos, atitudes, valores.
Em relação à obra de Mãe, entendemos que a voz do autor protesta contra o caráter desumano da sociedade quando se depara com as peculiaridades das pessoas. Mãe denuncia a hipocrisia de uma sociedade que finge não ter fraquezas ou distorções e tende a julgar e condenar as pessoas ou a odiá-las sem que se tenha uma razão para isso. O autor sublima, com muita sensibilidade, o caráter e a generosidade de quem busca e assume a simplicidade, o amor e a solidariedade diante nos mais frágeis ou dos subestimados.
Tivemos uma experiência incrível com a leitura, e sentimos a angústia de não poder ter livrado do destino cruel aquelas personagens tão oprimidas pelo preconceito, a discriminação e a maldade do povo.
De um lado, uma mulher que sobrepõe o valor à vida e o desejo de ter um amor às suas limitações e à hipocrisia. Um rapaz que tenta fugir de si, de sua sexualidade, e é submetido à crueldade física e psicológica e ao desprezo da mãe. Uma jovem que desiste de si mesma por ter sido iludida, subestimada e violentada no meio quase que familiar.
Do outro, o destino cruel de uma mulher recém-casada que, levada pela ganância, deseja a morte do marido. O confronto de uma mulher com a possibilidade de ser mãe adotiva como uma forma de se redimir após ter subestimado o seu filho. Uma sociedade estúpida e cruel, capaz de confabular a violência de uma mãe contra o seu filho.
O que nos salva - a nós, leitores, e a narrativa - é o amor solidário de Crisóstomo, um homem pela metade, órfão de quase tudo na vida, e que deseja um filho não somente para lhe completar a existência, mas para acolher com amor alguém que ele supunha está precisando de um pai. Um homem que amou uma mulher não pela vaidade ou pelo desejo carnal, mas porque entendeu a sua carência, o seu vazio e a sua dor. Grato à natureza e sensível aos problemas humanos, entendia que a felicidade consiste no bem que fazemos ao outro.
O que nos contenta é ver um filho órfão de uma mulher tão subestimada pela sua estatura como um ser tão grande a ponto de salvar a vida de dois homens solitários. O que nos consola é ver como o amor pode gerar e mudar a sorte de pessoas tão sofridas, com dores e traumas profundos, que, embora desconhecidas, encontraram uma família. Uns resgatando os outros.
Com efeito, a leitura de O filho de mil homens possibilitou a experiência estética. E sua indicação partiu da ideia de aprendermos como lidar em relação ao ensino de literatura, para, com isso, aprendermos uma postura efetivamente democrática na escolha do texto, e literária para o sentido do texto.
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