A Abordagem Metodológica da Etnografia: reflexões sobre o conceito e princípios teóricos - quarta-feira, dia 10 de março de 2021
A Abordagem Metodológica da Etnografia: Reflexões sobre o Conceito e Princípios Teóricos
Na sétima reunião, retomamos as reflexões sobre a abordagem metodológica da etnografia. As discussões referiam-se a duas propostas de atividades, que consistiam na análise dos pressupostos de Winkin (1998) sobre os fundamentos: O saber ver; O saber estar com; O saber escrever.
A primeira noção refere-se à importância de uma postura que aponta para a atitude ética de saber observar uma comunidade, uma escola, uma turma. Essa postura exige “um olhar de fora e de longe”, ou seja, o que Frederick Erickson (1984) denomina de experiência do estranhamento. Nessa perspectiva, apesar da não neutralidade no seu modo de olhar, o pesquisador passa a se perceber como observador e a confrontar suas convicções, seus valores, sua visão de mundo, ao mesmo tempo que vai se entrosando com o estranho.
A segunda noção diz respeito aos procedimentos, às atitudes e ao modo de se relacionar com o grupo pesquisado, tornando sua presença útil e oportuna. isto é, saber estar com o outro onde no campo de pesquisa, de tal modo que sua presença não incomode, tornando-se aceita. Assim, sua interação com o grupo passa a ser mais favorável, a partir da troca de experiências, favorecendo, por conseguinte, o andamento das análises.
O saber escrever – a terceira e última noção – faz parte das anteriores, quer dizer, já deve estar se desenrolando ao longo do processo. A etnografia do ensino suscita uma densa descrição do contexto de pesquisa. E, no decorrer do processo, o registro das observações feitas a partir das experiências abstraídas da interação com o grupo, organizadas em forma de diário com observações técnicas, reflexivas e analíticas e subjetivas.
Repensando sobre a minha formação inicial e sobre a minha inscrição no exercício da docência, compreendo o quanto me fizeram falta essas noções, quanto tempo passei na sala de aula sem pensar no lugar de fala e sem presumir as imposturas que cometi em relação ao tratamento dado ao texto literário nas práticas que desenvolvi. Essa falta implicou um perfil de professor autoritário, que impunha às turmas um projeto de leitura com foco exclusivo nos clássicos literários. Não havia diálogo, havia a falsa convicção de que eu tinha formação para isso e sabia, então, como promover um contato proveitoso entre os alunos e os textos sem pensar no que, de fato, faria sentido para os alunos.
Como eu não pude pensar que a realidade dos alunos era diferente da minha. Meus pais viviam lendo, e comigo não foi diferente. De forma irrefletida, relacionei a minha experiência com a leitura com a dos alunos. Eu não tinha noção sobre a proposta metodológica da etnografia, eu não tinha embasamento teórico, mas tinha a percepção do fracasso das práticas de leitura que desenvolvia com os alunos.
Ante o insucesso dessa abordagem, houve um momento em que comecei a compreender que deveria ser diferente. Isso, exatamente, quando passei a trabalhar em escolas da rede pública em que eu tinha autonomia para elaborar e flexibilizar os planejamentos das aulas.
Essa atitude de confrontar a minha convicção de que minha formação e minhas experiências eram suficientes para eu saber ensinar, e analisar o lugar em que se encontram os alunos, a sua realidade, refere-se ao princípio de saber ver.
A partir disso, repensar os planejamentos significou o princípio do saber estar com eles, favorecendo os seus interesses para promover práticas mais interessantes e pertinentes. Para tanto, observei suas falas, suas atitudes, seus interesses. Estava tudo expresso, nenhuma manifestação sutil. Bastava entender que tudo isso fazia sentido. Tudo isso feito intuitivamente. Eu não tinha, à época, leitura suficiente que fundamentasse essa mudança de abordagem.
Assim, para lidar com o fracasso de minhas práticas,
com a falta de interesse dos alunos, a evasão escolar e os problemas da comunidade
em que os alunos estavam envolvidos, resolvi pensar em projetos de leitura e
escrita cuja escolha dos textos partia de temas relacionados aos seus interesses.
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