"O encontro com o outro": análise da obra Xingu como fundamento para a compreensão da abordagem etnográfica - Dia 24 de fevereiro de 2021, quarta-feira
"O encontro com o outro"
Análise
da obra Xingu como fundamento para a compreensão da abordagem
etnográfica
No filme Xingu, pudemos observar, primeiramente,
aspectos relacionados às impressões, às sensações e aos sentimentos mobilizados
pelo conflito entre duas culturas. De um lado, os sertanejos
oriundos da região do atual Mato Grosso, destinados a uma expedição supostamente
violenta, conhecida como Roncador-Xingu; do outro, os índios corajosos e guerreiros.
Como observadores, captamos, justamente, tudo aquilo que
supúnhamos de um encontro conflituoso, visto que, subjacente à expedição, havia
a intenção de exploração das terras onde viviam os índios. Então, nossas mentes,
olhares e audição buscavam captar, além das sensações de estranhamento, os sentimentos
de apreensão, de medo, de repulsa, expressos nos olhares, nos gestos, nas falas,
nas reações. Exemplo disso foi o estrahameto causado pelas vozes dos índios, às quais eles associaram o som dos grunhidos das onças.
Com o desenrolar das cenas, nossos olhares passaram, então, a buscar outras impressões, e as capturas passaram a registrar outras sensações, pelas quais pudéssemos compreender a mudança que se estabeleceu na relação entre as partes.
É certo
que essa mudança só foi possível devido à verdadeira intenção dos irmãos
Villa-Bôas, que mobilizaram ações para ajudar os índios em vários aspectos. É pouco
provável que os trabalhadores braçais, sem os irmãos, tivessem um olhar
solidário para os índios, já que eles tinham uma concepção inadvertida de que
os índios eram, em sua natureza, violentos.
O espírito autruísta dos três irmãos e suas orientações sobre o sentido das relações humanas mudaram o
caráter do encontro. Isso fez com que eles empreendessem muito esforços para
proteger a comunidade, salvar a vida dos índios e preservar sua cultura e seu
território. O saldo de seus esforços a favor daqueles povos foi grandioso.
Embora tenhamos tomado conhecimento de que
o interesse dos Villa-Bôas ao ingressar na Expedição era o de viver uma
aventura, o que nos parece é que eles já nutriam um olhar para o outro no
sentido mesmo de agir em prol do social.
Isso
pode ser associado ao um discurso de Cláudio
Villas-Bôas, no qual ele defende que, para entender o fato de que temos muito a
aprender com os índios, basta compreender que o sentido de nossa existência não se resume a acumular riquezas. Para ele, o propósito de nossa passagem pela
Terra é viver em equilíbrio com família
e a comunidade. E, nisso, os índios, por excelência, têm muito a ensinar.
Então,
vejamos! Do ponto de vista da etnografia, deve-se levar em conta o cunho
político e ético que lhe são inerentes. Se os Villa-Bôas acreditavam que se
deparariam com homens selvagens, com muita facilidade, eles compreenderam o
modo pelo qual deveriam entrar no território do outro, procurando minimizar o
clima de conflito. Também em relação à sua permanência no território alheio, eles
conseguiram compreender o que estava acontecendo naquele contexto: comunidades
que buscavam se defender dos ataques dos invasores, e, no encontro amistoso,
demonstraram o quanto tinham de valor.
A partir dessa compreensão, passaram a valorizar e investiram
grandes esforços em prol da proteção e preservação da integridade dos
territórios e da cultura indígena, procurando minimizar sua influência sobre a
organização daquele povo.
Com base nos pressupostos de Winkin (1998), fazendo
uma analogia entre o contexto do filme e o contexto da sala de aula, penso no
professor representado pelos irmãos Villa-Bôas, procurando assumir uma postura
para observar e captar do “outro” suas particularidades, seu modo de viver, sua
cultura, confrontando sua perspectiva subjetiva com a necessidade de entender o
que faz sentido e o que é necessário.
Além disso, assim como procederam os Villa-Bôas (que,
em sua permanência no território dos índios, procuram superar os problemas que
os afetavam, mas com o mínimo de interferência), os projetos elaborados pelo
professor devem levar em conta as necessidades dos alunos, os seus interesses e
o que faz sentido para eles. Para isso, é preciso diminuir a tensão entre os
interesses dos alunos e suas propostas didático-pedagógicas, mostrando-se
interessado e apto para ajudá-los a desenvolverem as competências essenciais para atuar nos mais variados contextos. Isso não significa ser
neutro ou imparcial, mas diz respeito a um conflito de interesses que precisa der equilibrado.
Por fim, cabe ressaltar que o professor deve
assumir um lugar de fala de onde ele não venha a desrespeitar a realidade em
que se inserem os alunos, suas características socioculturais. Como bem fizeram
os Villa-Bôas em seu confronto com o “outro”, que conseguiram compreender
a realidade dos índios, apreender e a valorizar sua cultural e a contribuir,
siginificativamente, para manter a sua dignidade, o que os levou a defender não apenas a sua
integridade física, mas também sua integridade cultural.
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